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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Vivendo e Aprendendo

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Por que viver toda uma vida se ela é desprovida de sentido?

Você afirma que a vida é desprovida de sentido. Isso implica que, por alguma razão, você ou alguém espera que ocorra o contrário, ou seja, que a vida tenha um sentido.

Eu já me cansei de bater na tecla das palavrinhas que têm vários conceitos diferentes, e uma delas é "vida", e outra é "sentido".

Vamos usar definições de trabalho. Aqui, vida = estado biológico de um ser humano que não está morto.

A palavra sentido também não é das mais claras. Aqui, a definição de trabalho de sentido é = meta planejada por uma mente para atingir fins que esta mente julga bons.

Dadas estas definições, esperar que a ‘vida’ tenha um ‘sentido’ é absurdo, porque a vida claramente não foi planejada por uma mente.

A vida existe porque processos naturais geraram a vida. Não há indicação nenhuma de que haja um sentido nos processos naturais, pelo fato de que processos naturais geram terremotos, vulcões, flores, mel, frutas deliciosas e cactos espinhentos, coalas bonitinhos e gambás fedorentos. Ou seja, os processos naturais, se tivessem sentido, seria o sentido de uma mente insana e contraditória (ainda estou usando as definições de trabalho acima!). Mente contraditória com metas aleatórias não difere em nada de uma mente inexistente.

Então tenho bons motivos para pensar que os processos naturais, quaisquer que sejam sua origem, são completamente desprovidos de SENTIDO.

E cá estamos nós, vivendo, com nossas vidas geradas por esses processos naturais sem sentido.

Introduzamos outro conceito aqui, e outra definição de trabalho: vivência. Vivência = conjunto de estados psicológicos de um ser humano ao longo do tempo em que está com vida.

Sendo a vivência definida assim, então segue-se que todo ser humano pode construir SENTIDO para sua vivência, porque metas são estados intencionais, ou seja, psicológicos.

Então, respondendo sua pergunta, viver PODE valer a pena para quem VIVÊNCIA e constrói SENTIDOS favoráveis à VIDA.

No meu caso, eu vivo porque minha vivência tem sentidos muito fortes e claros. A vida não ter sentido não tem nada a ver com isso, como expliquei, porque a falta de sentido da vida é uma coisa factual.

Meu fígado, meu baço, meus pulmões, meu coração, meu cérebro, simplesmente existem porque causas no mundo natural trouxeram sua existência à tona, sem nenhum ‘sentido’.

Eu nunca quis terminar a minha vida porque quero construir algo, quero sentir prazer, quero evitar que a dor aflija a mim e aos outros, quero ter uma carreira intelectual satisfatória, quero ver meu sobrinho crescendo, quero estar com minha família e com meus amigos, quero indagar sobre os mistérios do universo e da existência, quero saber o que é querer e saber o que é saber, e quero fazer tudo isso e um pouco mais durante mais algumas décadas, até que minha chance de vivenciar e viver seja ceifada, de preferência quando eu estiver velho e estiver preparado para dissolver o rio da minha vida e da minha mente no oceano de entidades naturais simples que, sem sentido algum, me geraram.

Depois da minha morte, num tempo muitíssimo mais breve que a duração da existência dos pterossauros neste planeta, ninguém mais se lembrará de mim e nenhum registro restará de que eu um dia existi.

E eu não protesto contra isso. Eu protesto é contra quem pensa que tudo o que é precioso precisa durar para sempre. Não há nada mais precioso para mim do que a memória. É a memória que me permite saber quem eu amo, quem me ama, o que eu quero, o que eu já quis e não quero mais, e o que vou querer no futuro dado tudo o que já tenho no presente.

A fugacidade da vida, à luz da falta de sentido em sua origem, torna a existência algo assombroso. As palavras não descrevem, você sente o vento batendo no rosto, observa toda a enormidade da improbabilidade de tudo o que te cerca, saboreia cada gota de tempo que lhe resta, prova um beijo de forma diferente, vê o ridículo das suas tentativas de inflar o próprio ego, e o que lhe resta é dizer:

– Eis aqui o sentido que eu fiz para a minha vida, é o presente que dei a mim mesmo, e darei a você se você quiser. Você quer? Muito me honra. Você não quer? Que pena, não sabe o que está perdendo.

Roubaram o fogo do Olimpo, distribuíram para os humanos. Eis que alguns se queimam, eis que outros esquentam guloseimas maravilhosas.

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